Mimo

 

Arte do movimento corporal.

 

1. Mimo e Rapsodo

A narrativa dispõe de dois meios de expressão fundamentais: a imitação direta pelo mimo e a descrição verbal pelo rapsodo. O mimo conta uma história por gestos, estando a fala completamente ausente ou só servindo para a apresentação e os encadeamentos dos números. Remonta à Antiguidade grega (SOFRON de Siracusa, no século V a.C., compôs as primeiras peças mimadas). Na tradução grega e latina, o mimo se toma uma forma popular. Na Idade Média, o mimo se mantém graças às trupes ambulantes. Conhece um renascimento no século XV, na Itália, sob a forma da Commedia dell'arte, e floresce hoje na arte de DECROUX (1963), de MARCEAU (1974) e do teatro gestual*.

 

2. Mimo e Pantomima

O uso atual diferencia os dois termos valorizando-os diferentemente: o mimo é apreciado como criador original e inspirado, ao passo que a pantomima" é uma imitação de uma história verbal que ela conta com "gestos para explicar". O mimo tenderia para a dança, logo, a expressão corporal liberta de qualquer conteúdo figurativo; a pantomima buscaria comparar por imitações de tipos ou de situações sociais: "O teatro parece contido entre dois silêncios, como a própria vida, entre um mimo do início, feito de gritos, inspirações, identificação, e um mimo do fim, última cabriola no virtuosismo e na pantomima" (LECOQ). A oposição entre mimo e pantomima se baseia numa questão de estilização e de abstração. O mimo tende para a poesia, amplia seus meios de expressão, propõe conotações gestuais que cada espectador interpretará livremente. A pantomima apresenta uma série de gestos, muitas vezes destinados a divertir e substituir uma série de frases; denota fielmente o sentido da história mostrada.

 

3. Formas de Mimo

O mimo varia de acordo com cada intérprete, e não se pode falar em gênero, no máximo em tendências:

O mimodrama constrói toda uma fábula a partir de um encadeamento de episódios gestuais, vai ao encontro das estruturas narrativas da comédia ou da tragédia (ex.: MARCEAU).

O mimo dançado utiliza um gesto estilizado, abstrato e depurado à maneira de um balé. É acompanhado de música e muitas vezes se confunde com a dança (ex.: TOMASZEWSKI).

O mimo puro corresponde a um gesto que não imita uma situação, não visa o efeito de reconhecimento; é abstrato e despojado (PAVIS, 1,980d).

O mimo corporal provém das experiências de COPEAU no Vieux-Colombier: o ator' o rosto mascarado, o corpo, "tão nu quanto o permitia a decência" (DECROUX, 1963: 17), praticava uma "arte dramática interpretada exclusivamente com o corpo", ancestral de todo o teatro gestual contemporâneo.

 

4. Relação entre Mimo, Gesto e Verbo

O mimo está apto a produzir um constante dinamismo do movimento, é uma "arte em movimento na qual a atitude é apenas pontuação" (DECROUX, 1963: 124). O gesto restitui o ritmo de uma espécie de fraseado valorizando os momentos-chaves do gesto, detendo-se imediatamente antes do início ou do fim de uma ação, atraindo a atenção para o desenvolvimento da ação gestual e não para seu resultado (técnica épica): "No mimo, o espectador só capta o gesto se o preparamos para isso. Assim, quando vou apanhar uma carteira, primeiro levanto a mão, olha-se para a mão, e em seguida é que me dirijo à carteira. Existe um tempo de preparação, e depois uma outra ação" (MARCEAU, 1974: 47). O mimo estrutura o tempo à sua maneira, decide o tempo das paradas ou da "pontuação" marcada pelas atitudes dos atores. Deste modo, ele se separa do ritmo da frase verbal e evita o efeito de redundância.

 

Fonte:

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999. Pág. 243-4