Livro de Jó
O LIVRO DE JÓ
Criação - Teatro da Vertigem
Dramaturgia - Luís Alberto de Abreu
Concepção e direção geral - Antônio Araújo
Excertos retirados do roteiro que exemplificam o uso do estranhamento enquanto procedimento de criação dramatúrgica:
(...)
Jó
Então Jó se levantou,
Rasgou seu manto,
Raspou sua cabeça,
Caiu por terra,
Inclinou-se no chão e disse:
"Nu saí do ventre de minha mãe
E nu, para lá, voltarei.
Deus me deu, Deus me tirou.
Bendito seja o nome de Deus".
Matriarca
A mulher de Jó, porém, amaldiçoou
O reto/o torto desígnio de Deus,
Que ainda não era morto.
(Chora sobre os filhos. É conduzida quase desfalecida pelo coro para defronte de Jó.)
E aconteceu que a mulher de Jó
E mãe de seus filhos,
Que agora estavam mortos,
Enlouqueceu de dor e gritou:
"Deus, devolve meus filhos!"
(...)
Matriarca
(Fazendo um gesto que abarca toda a área de representação.)
Os homens e o mundo!
(O hospital se transforma num caos de loucos, doentes, pedintes. Os discursos e gestos dos amigos de Jó serão só figuras de retórica, ritos repetitivos de uma fé perdida. Coro inicia uma série de músicas pretensamente religiosas alegres e graves. Num canto, Baldad, com a Bíblia aberta, inicia a pregação para um diminuto público.)
(...)