Paraíso Perdido

O PARAÍSO PERDIDO

 

Criação - Teatro da Vertigem

Dramaturgia - Sérgio de Carvalho

Concepção e direção geral - Antônio Araújo

 

Excertos retirados do roteiro que exemplificam o uso do site specific enquanto procedimento de criação dramatúrgica:

 

(...)

Imagem de Adão e Eva

 

(Adão e Eva, atrás de grades, têm vergonha de seus próprios corpos nus. Tentam se cobrir inutilmente. O anjo se rebela e corre aos gritos em direção ao altar. Os bancos se fecham atrás dele, encurralando-o no altar.)

 

Cena da Desarrumação dos Bancos

 

(Um conjunto de bancos é arrastado no meio do público, fazendo com que ele se movimente e abra caminho. Um grande espaço vazio é aberto no meio da igreja.)

 

(...)

(Ouve-se ao longe uma mulher que canta. O anjo vai até ela. A mulher está dentro de um confessionário e tem as mãos sujas de sangue.)

 

Mulher no Confessionário

 

Eu sou a menina que caiu do colo, aquela arrancada do ventre. A criança ungida com sangue. Eu sou a mulher que dá à luz. Aquela que gera seus filhos em meio à própria dor. A mãe dilacerada. Só a mim cabe a culpa? Só a mim cabe o grande mal? Mas agora eu recuso o castigo. Recuso a dor da criação. (Mostrando as mãos ensanguentadas.) Arranco do ventre a vida. (Blecaute.)

 

(...)

Coro "Pai", com Velas na Mão

 

(Entra um grupo de pessoas com velas na mão, procurando algo. De vez em quando, alguma delas chama pelo pai. Elas atravessam a igreja lentamente, apenas iluminadas pela luz das velas. Vão saindo. A última das pessoas, já um pouco afastada do grupo, encontra as asas do anjo caídas no chão. Ela as recolhe e sai. A porta central se abre. Entra uma mulher segurando um balão. Ela caminha lentamente até a nave central. Para.)

 

Mulher com Balão

 

A euforia do voo, a euforia do anjo perdido em mim. Por um instante, de perturbadora alegria, penso no movimento das coisas que caem. Eu saí nua do ventre da minha mãe, e meus pulmões, então, se abriram. No princípio bastava um sopro.

 

(A mulher solta o balão. Atrás dela, o anjo desce por uma corda do alto do coro. A mulher abre os braços e começa a girar lentamente. O anjo atinge o chão. A mulher para de girar. No alto do coro, um grupo de pessoas canta. A mulher vai fechando os braços lentamente em direção ao alto, até suas palmas quase se tocarem. Blecaute.)

 

Coro Final

 

Fim