Dramaturgo

 

1. Sentido Tradicional

O dramaturgo é o autor de dramas (comédia ou tragédia). MARMONTEL fala, por exemplo, de "SHAKESPEARE, o grande modelo dos dramaturgos" (1787). Atualmente, o costume francês prefere o termo autor dramático.

 

2. Emprego Técnico Moderno

Dramaturgo (que vem do sentido 1 por intermédio de sua tradução e de seu uso alemão, Dramaturg) designa atualmente o conselheiro literário e teatral agregado a uma companhia teatral, a um encenador ou responsável pela preparação de um espetáculo.

O primeiro Dramaturg foi LESSING: sua Dramaturgia de Hamburgo (1767), coletânea de críticas e reflexões teóricas, está na origem de uma tradição alemã de atividade teórica e prática que precede e determina a encenação de uma obra. O alemão distingue, diversamente do francês, o Dramatiker, aquele que escreve as peças, do Dramaturg, que é quem prepara sua interpretação e sua realização cênicas. As duas atividades são às vezes desenvolvidas simultaneamente pela mesma pessoa (ex.: BRECHT). Empregado correntemente na Alemanha, e se o dramaturgo trabalha de forma contínua com um mesmo encenador, essa figura está cada vez mais presente na França.

 

3. Tarefa Ambígua do Dramaturgo

A partir do momento em que o dramaturgo passa a ter direitos adquiridos no teatro (direitos recentes e ainda contestados na França), ele é encarregado principalmente de:

• Escolher as peças do programa em função de uma atualidade ou de uma utilidade qualquer; combinar os textos escolhidos para uma mesma encenação.

• Efetuar as pesquisas de documentação sobre e em torno da obra. Às vezes, redigir um programa* documentário (tomando o cuidado de não explicar tudo de antemão, como acontece em alguns textos-programas).

• Adaptar* ou modificar o texto (montagem*, colagem *, supressões, repetições de passagens); eventualmente, traduzir o texto, sozinho ou em colaboração com o encenador.

• Destacar as articulações de sentido e inserir a interpretação num projeto global (social, político, etc.).

• Intervir de tempos em tempos, durante os ensaios, como um observador crítico cujo olhar é mais "fresco" do que aquele do encenador, confrontado cotidianamente com o trabalho cênico. O dramaturgo é então o primeiro crítico interno do espetáculo em elaboração.

• Assegurar a ligação com um público potencial (animação*).

 

4. Dramaturgo: Pré ou Pós-Encenador?

Por muito tempo considerado inútil ou integrado ao trabalho de mesa*, colocado "como sanduíche" entre atores e encenador, o dramaturgo fez definitivamente sua entrada na equipe artística, mesmo que atualmente os encenadores negligenciem as análises dramatúrgicas* de inspiração brechtiana. Sua marca na encenação é, portanto, inegável, tanto na fase preparatória quanto na realização concreta (interpretação do ator, coerência da representação, encaminhamento da recepção etc.). Após alguns anos, seu papel não é mais o de ser o preposto do discurso ideológico e, sim, o de assistir o encenador na sua pesquisa dos possíveis sentidos da obra.

 

Fonte:

PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999. Pág. 116-7